TDAH

Será que meu filho tem TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) se ele fica horas jogando videogame? Essa é uma dúvida que os pais costumam trazer aos consultórios. Isso é um paradoxo possível e não exclui a possibilidade de a criança ter TDAH.  Isso é possível porque os jogos são atividades altamente motivadoras para a maioria das crianças e adolescentes. As pessoas com TDAH conseguem se concentrar quando desempenham uma única atividade, em um ambiente calmo, e quando estão envolvidas em uma atividade motivadora e associada à recompensa, como os jogos de videogame.

Você sabe o que é TDAH?

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais prevalentes na infância, estima-se que cerca de 7,2% da população mundial de crianças e adolescentes são afetadas por essa condição1.

 Algumas pessoas acreditam que este seja um transtorno relacionado ao mundo pós-moderno, mas suas primeiras descrições surgiram nos séculos passados. Em um conto literário, por volta do ano 1845, há a descrição de um personagem com características do que hoje chamamos de TDAH. Em 1902, um artigo é publicado em uma conceituada revista médica com os sinais do que hoje nomeamos TDAH2.

O TDAH é caracterizado por um padrão persistente de sintomas graves, o suficiente, para prejudicar o indivíduo em diversas áreas de sua vida como:  acadêmica, laboral e relacionamento interpessoal. É essencial para o diagnóstico que os sintomas estejam presentes em mais de um ambiente, como na escola e em casa, e os sintomas tenham iniciado na infância, antes dos 12 anos¹.

Há 3 subtipos:  apresentação predominantemente desatenta, apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva e apresentação combinada. Também é importante salientar que a apresentação clínica costuma ser diferente entre meninos e meninas; em meninos prevalecem sintomas de hiperatividade e impulsividade, já nas meninas predominam sintomas de desatenção. Os sintomas de TDAH costumam mudar ao longo do desenvolvimento da criança.1–3

 Na fase escolar, é mais frequente a apresentação combinada em que são evidenciados tanto sintomas de desatenção quanto de hiperatividade. Os sintomas de desatenção, nesta faixa etária, manifestam-se como divagação durante as aulas, o aluno não responde quando uma pergunta é dirigida a ele   porque está “no mundo da lua”. Na hora da lição, evita ao máximo o início dos exercícios solicitados, deixa os mesmos pela metade mesmo já tendo feito a maior parte deles e comete muitos erros por desatenção durante a execução das atividades, além de esquecer compromissos importantes como datas das provas e dos trabalhos.

Os sintomas de hiperatividade são causados pelo aumento da atividade motora devido ao prejuízo do controle inibitório. A criança tem dificuldade em permanecer sentada, então levanta várias vezes ao longo da aula ou durante a lição de casa, sai várias vezes da sala, fica se remexendo na cadeira, movimentando mãos ou pés, tamborilando os dedos e costuma conversar em excesso durante as aulas.

Em casa, pais observam que os filhos têm dificuldade de permanecer sentados durante uma refeição. Nas atividades de lazer, apresentam dificuldades quando assistem um desenho devido à inquietação e desatenção, tendem a ter preferências por brincadeiras mais agitadas e estão sempre mudando as brincadeiras.  Também costumam ser jovens desorganizados que perdem seus pertences com frequência ou não recordam onde os guardou.

A característica central da impulsividade é a dificuldade de adiar recompensas, então são crianças e adolescentes que desejam ser imediatamente atendidos. Isso pode ser percebido através da dificuldade de esperar sua vez nas brincadeiras ou nas filas, frequentemente interromper os outros durantes as conversas, responder antes da hora ou na vez do colega, se intrometer na conversa alheia. Isso causa prejuízo na socialização devido à impulsividade.

Ao entrar na adolescência, é observado mudanças dos padrões de sintomas pois tende a reduzir a hiperatividade. Por outro lado, a desatenção, a impulsividade, o nervosismo e a inquietação subjetiva continuam sendo dificuldades importantes.1,3

Os jovens com TDAH não tratados correm um maior risco de prejuízo acadêmico que poderá culminar em evasão escolar.  Também apresentam maior risco de gravidez na adolescência, de contrair infecções sexualmente transmissíveis e de se envolver em acidentes, inclusive de trânsito, devido à impulsividade.4,5

Uma angústia de muitos pais é se esse quadro vai acompanhar os filhos até a vida adulta. Estudos recentes estimam que aproximadamente 50% dos indivíduos afetados pelo transtorno na infância e adolescência continuam a apresentar os sintomas na vida adulta³.

A identificação precoce do transtorno e o conhecimento de como ele impacta a vida do paciente, ao longo do desenvolvimento, é importante para o planejamento terapêutico. Assim, o indivíduo tem a oportunidade de desenvolver ferramentas e estratégias para superar suas dificuldades e atingir todo seu potencial de vida.

Referências:
1. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 5° edição. American Psychiatric Association ; 2013.
2. Castanho JM, Polanczyk G V, Rohde LA, Coimbra IM. ATTENTION DEFICIT HYPERACTIVITY DISORDER 2020 Edition.
3. Rohde LA, Buitelaar JK, Gerlach M, Faraone S V. The World Federation of Guide ADHD.
4. Barkley R. Attention Deficit Hyperactivity Disorder: A Handbook for Diagnosis and Treatment. 2 edition. Guildford Press; 1998.
5. Barkley R, Guevremont D, Anastopoulos A, DuPaul G, Shelton T. Driving-related risks and outcomes of attention deficit hyperactivity disorder in adolescents and young adults: a 3- 5 year follow-up survey . Pediatrics. 1993;92:212-218.